sábado, 14 de agosto de 2010

O teatro.

As cortinas se fecharam e foi a última vez que eu participei daquela peça, eu pude ouvir os aplausos e as gotas de suor descendo pelo meu rosto. Foi íncrivel, eu senti. Ainda estavamos de mãos dadas e os nossos lábios se tocavam como na última cena. Foram segundos e seus lábios ficaram distantes e sua mão eu já não encontrava. A temporada acabou. Fui ao camarin tentar retirar minha bela fantasia de mulher amada, de adolescente apaixonada. Aos poucos eu podia ver tudo cair, tudo ser guardado. Voltei ao palco para observar, eles haviam mudado, retiraram as cartas do chão, secaram as gotas da chuva, até arrastaram o banco do nosso primeiro beijo. Encontrei entre tudo a mensagem que você ainda havia escrito, dei risada, mas lembrei 'faz parte do roteiro'. Levantei, ajudei a fechar as cortinas. Devia ter partido, mas aquele lugar era tão importante, eu adorava ler e reescrever esse roteiro, sem mexer nas cenas principais, porque acabou? Era um sucesso. Todos adoravam, era lindo de se assistir. E toda semana eu tinha que ver, tirar a poeira de tudo, porque meu coração desesperadamente esperava assistir outra ver. Talvez com uma adaptação ou outra, mas ele precisava. O tempo passou e eu já havia reescrito tanto que pouco tinha da peça original, eu estava me esquecendo. Corri atrás reuni o elenco pedi desesperamente para que tudo voltasse, senti nele que ainda havia um desejo, um carinho por aquela história, mas enquanto a peça atual estivesse boa o suficiente não havia necessidade de mexer na antiga. O tempo passou, e eu continuei a limpar o meu velho teatro. Os dias se passaram até que minha cabeça girou e eu comecei a perceber que não era aquele ator, eram as cenas. Enquanto até eu mesma acreditava que era a sua falta, eu descobri ... que isso tudo dependeu muito mais de mim do que de você. E agora estou esperando, para que outro ator aceite esse humilde papel dentro do meu teatro e que de maneira sincera eu possa outra vez por em cartaz o amor.

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